Relatório de viagem referente ao Congresso Encontro Nacional de Pós-Graduandos em
História das Ciências (ENAPEHC III) entre os dias 16 e 18 de
outubro em Mariana/MG.
Referente à pesquisa
apresentada pela aluna CAMILA DE OLIVEIRA BRITO, orientada pela Prof. Dra. ANA
MARIA DIETRICH, titulado “Ciência Nazista”: Discussões éticas e conceituais em
contraste à política eugênica, através do projeto de pesquisa PDPD, foi
realizado uma pesquisa através do recolhimento de material não só durante as
visitas ao UFOP, Campus em Mariana – onde reside o Instituto de Ciências
Humanas e Sociais (ICHS) e o Instituto de Ciências Sociais Aplicadas (ICSA),
como também durante a visita a museus históricos na cidade de Ouro Preto.
Apesar de a
universidade revelasse não apresentar nenhum projeto extensionista com temas
relacionados à pesquisa, A Casa dos Contos foi o museu que mais se assimilou
com os estudos devido a sua construção no século XVIII - período marcado pela
escravidão no Brasil e sua abolição em 1888 – caminhando para o surgimento do
racismo científico em solo nacional a partir da difusão do cientificismo
europeu.
Embora
as novas teorias evolucionistas agradassem alguns brasileiros, estas apenas
“provavam” a degeneração da raça miscigenada. Revela-se neste ponto um
paradoxo, visto que grande parte da sociedade brasileira nasce a partir da
hibridização de raízes estrangeiras.
Assim,
Arthur de Gobineau, como um importante filósofo doutrinário das teorias raciais
que, posteriormente, influenciariam e se fundiriam à política eugênica durante
o III Reich alemão, motivou suas ideias ante a sociedade brasileira no que
concerne a radicalização do preconceito racial.
Os
negros por muito tempo foram (e ainda são) discriminados em detrimento de sua
história. Observa-se uma “nova escravidão” a partir da abolição de cunho
social, podendo ser empreendida (como o nazista, através da utilização de uma
pseudociência com propostas de reformulações políticas, econômicas, estéticas e
sociais) também de cunho biológico, do ponto de vista “científico”, uma vez que
submeteriam tal raça à inferioridade e subimissão de uma elite branca.
Enquanto
na Alemanha a política eugênica ascendia a partir da atuação e legitimação do
Estado, no Brasil, o racismo centrava-se em escala social nacional, de modo a
difundir-se entre as classes quase que espontaneamente; a elite branca
construiu relações hierárquicas não somente na política como nas questões
voltadas à estética. É notória essa caracterização de nossa sociedade ainda nos
dias atuais, que preservam a ideia de imagem corporal perfeita nos mesmo
atributos que os alemães nazistas difundiam durante os anos 30 em seu país.
Esse fenômeno revela não somente a influência atual de uma raça no topo da
hierarquização, como a também nos mostra a similaridade entre duas nações tão
distintas, mas se que portaram como correspondentes a partir dos conhecimentos
e ideologias difundidos durante o século XIX.
“Cláudio Manuel da Costa foi preso e
encontrado enforcado em uma de suas celas. É uma das poucas casas ouro-pretanas
em que ainda existe uma senzala. Pertence atualmente ao Ministério da Fazenda e
guarda acervo que inclui mobiliário (séculos XVIII e XIX), documentos, cartas,
rica biblioteca e curiosa coleção de moedas”¹
A Casa dos Contos foi inicialmente
construída para empregar o morador João Rodrigues de Macedo, responsável pela
administração dos impostos em meados de 1780 na capitania de Minas. Um dos
cômodos da casa foi utilizado como prisão para alguns dos inconfidentes.
Durante a visita, o único espaço que não foi permitido o registro através de
câmeras fotográficas foi a justamente a senzala, parte crucial para a pesquisa.
O espaço era localizado na parte mais baixa da casa, assemelhado a um porão de
grande porte; embora possuísse algumas janelas, o ambiente era escuro e
rústico, devido à umidade do ambiente e as pedras que compunham o chão
tornavam-se escorregadias. O museu expôs variados artefatos utilizados no
período, desde vestimentas e utensílios domésticos – grandes panelas de barro e
balanças – até os instrumentos para a tortura dos prisioneiros.
Assim como as atrocidades nazistas, às
vezes não é dado o devido reconhecimento às histórias locais devido a sua
amplitude. Entretanto, o abandono da ética em questão é se não mais claro que a
história alemã pelo fato de nem mesmo tentarem acobertar a crueldade cometida.
É interessante ressaltar que o racismo no Brasil é anterior à ciência nazista,
embora a obviedade do assunto, o que é pertinente é exatamente a interferência
do racismo científico despertado no século XIX para além do continente europeu
e infiltrando-se em capitanias específicas no Brasil.
Apesar de não haver pesquisas ou
grupos de discussões relacionadas à pseudociência nazista, ou mesmo pautadas no
estudo geral do genocídio, a Universidade de Ouro Preto possui um projeto de
extensão intitulado “Centro de Difusão do Comunismo”, tendo como orientador o Prof.
André Luiz Monteiro Mayer. O objetivo e a atividades do projeto, embora pudesse
sugerir o debate entre as teorias de Karl Marx e Adolf Hitler, para o
entendimento de cada sociedade são, segundo o CDC-UFOP são as seguintes:
“Objetivo: “Lutar por uma sociedade para
além do capital!”
Atividades:
1. Liga dos Comunistas - Núcleo de Estudos
Marxistas (CNPQ) (projeto)
2. Mineração e exploração dos trabalhadores
na região da UFOP. Em parceria com o Sindicato Metabase Inconfidentes (curso)
3. Equipe Rosa Luxemburgo. Grupo de debate e
militância anticapitalista. Responsável pela coordenação do CDC (projeto)
4. Relações sociais na ordem do capital. As
categorias centrais da teoria social de Marx”
Ainda que sobre focos diferentes, há
de se diferenciar as ideias de modo simplório entre os juízos de cada corrente,
pois apesar de levar a outro campo da pesquisa, este se encontra ligeiramente
relacionado com o tema inicial, o nazismo.
O embate entre ambas estão centrado
na posição que se encontravam as classes sociais. Marx argumenta a mudança de
uma estrutura essencialmente capitalista através de um processo histórico por
meio das lutas de classes, sempre posicionando o proletariado como fundamental
para a movimentação das massas e, por fim, a vitória do comunismo. Em
contrapartida, Hitler determinaria uma dissolução sobre as diversas camadas
sociais, de modo a criar uma população harmoniosa e perfeita, desse modo, a
reconstrução de uma nação tendo suas bases fortificadas levaria à ascensão e a
sobreposição sobre as demais nações.
JÚNIOR, J. F.. Aspectos
semânticos da discriminação racial no Brasil: Para além da teoria da
modernidade. RBCS. vol. 21 nº. 61
junho/2006.
(s.d.). Acesso em Outubro de 2013, disponível em Universidade
Federal de Ouro Preto: <http://www.ufop.br/>
Revista Idas Brasil
Ltda. (s.d.). Museus em Ouro Preto. Acesso em Outubro de 2013, disponível
em Ouro Preto: <http://www.ouropreto.org.br/port/museus.asp>
UNIVERSIDADE FEDERAL DE
OURO PRETO. (s.d.). Acesso em Ourtubro de 2013, disponível em Centro de Difusão do Comunismo (CDC-UFOP):
<http://www.cdc.ufop.br/>